Wednesday, May 31, 2006

Pobre homem rico - Uma leitura de Marcos 10:17-21

Pobre homem rico....

Uma leitura de Marcos 10:17-21

Deus ama mais os ricos ou os pobres? Esta pergunta parece de difícil elucidação à luz de algumas visões teológicas cristãs, ou não, que tem sido propaladas em nossos dias. Se procurarmos os adeptos da Teologia da Prosperidade, podemos considerar que Jesus gosta dos ricos mais do que dos pobres. Por outro lado, se formos aos adeptos da teologia da Libertação, Deus ama apenas aqueles que sofrem e odeia aqueles que tem e não repartem.

Gostaria de sugerir uma leitura do texto contido no Evangelho de Marcos 10:17-22, onde está narrado o encontro de Jesus com um homem rico. Este debate tem profundas implicações para a construção de um paradigma que sirva de modelo para uma vida cristã integral em nossos dias.

Tradução do Autor: Marcos 10:14-22

17 e Pegando ele seu Caminho adiantou-se um homem e prostrando-se Perguntou lhe: Mestre Bom, Que faço para herdar a vida eterna?

18 Jesus lhe respondeu: Porque me chamas Bom, Ninguém Bom se não um, o Deus.

19 Aos mandamentos aprenda: Não mate, não adultere, não roube, não de falso testemunho, não defraude, honra teu pai e tua mãe.

20 Disse o homem: Mestre, todas estas coisas eu tenho guardado desde minha juventude.

21 Com isto, Jesus olhando-o amou-o e disse-lhe: De uma coisa necessitas! Vai, vender tudo que tens, dê aos pobres e terás tesouro no céu, depois venha após mim.

22 Mas chocado com estas palavras, partiu chateado, pois possuía muitas riquezas.

Uma das grandes perguntas existenciais humanas, que todas as religiões tentam responder é: O que devo fazer para herdar a vida eterna?

Primeiramente, esta é uma pergunta existencial, pois envolve algo de essencial na reflexão humana sobre sua própria natureza, no sentido de para onde iremos e sobre onde estaremos quando morremos.

Tal é a importância desta questão, que grandes monumentos da antigüidade, como as pirâmides e outras formas de túmulos que podem ser encontrados em quase todas as grandes culturas antigas. Sendo que todas estas obras a priore, correspondem a um edifício teológico filosófico que visaria explicar e propiciar formas práticas de se garantir um descanso eterno.

Vejamos que a pergunta que o homem rico fez a Jesus, tem esta mesma função, de forma que poderíamos reescreve-la assim: que faço para aplacar a ira divina que me condena a morte eterna, de forma que possa herdar a eternidade?

Vale destacar a importância da palavra herdar quando conectada ao fato de ele ser um homem rico. Somando-se ao fato de Mateus o chamar de jovem, isto implica que as riquezas foram herdadas de graça, portanto pretender-se-ia que a vida eterna fosse recebida pela imposição de mão de Jesus.

Mediante ao apresentado, podemos supor que o homem gostaria de ouvir de Jesus uma resposta mística e sobrenatural, como Naamã perante Elias. Todavia o mestre dos mestres faz o que vai na direção contraria a todas as expectativas daqueles que crêem na religião mágica. Ele apenas relembra que só Deus é bom e aponta diretamente para as leis sociais dadas a Moisés. Leis que tem a finalidade de levar seus praticantes a um estilo de vida que prefigure o reino de Deus. Portanto, a espiritualidade não pode esta dissociada do mundo real e das relações humanas, as quais somos responsáveis.

Então, poderíamos supor que aquele homem não praticava de forma correta as relações sociais, as quais, todo aquele que busca ao Deus da aliança deveria desempenhar. Observemos que, no inicio do capitulo dez de Marcos, Jesus discute com os Fariseus a respeito do divórcio, o qual era permitido pela lei mosaica. Mas a lei apenas normalizava um pecado decorrente de uma incapacidade humana de cumprir seus deveres sociais. Da mesma forma, quando Jesus abençoa as crianças, simbolicamente, Jesus cumpre o principio que os pais não eram capazes de cumprir, pois o divórcio é uma forma de maldição sobre os filho de um casal.

Uma leitura da frase de Jesus: “Vende tudo o que tens, dá aos pobres e terá um tesouro no céu.” Faz-nos supor que aquele homem confiava em suas riquezas e isto o impedia de ter tesouros espirituais oriundos dos relacionamentos sociais alicerçados em Deus.

No fim do capítulo, podemos observar que aqueles que tudo deixam por causa de Jesus, recebem 100 vezes mais em vida. Isto aponta para o fato que as relações sociais construídas sobre os parâmetros das Escrituras Sagradas são indubitavelmente mais compensadoras que as relações construídas sobre os referenciais de troca que a sociedade impõe.

Poderíamos tomar para nós, enquanto cristãos que procuram vivenciar uma vida cristã integral, que nossas relações sociais devem ser modificadas de forma que prefigurem o próprio reino de Deus na vida daqueles aos quais estamos ligados direta e indiretamente. De forma a desempenharmos a função de sacerdotes do reino de Deus na vida uns dos outros

Para acumularmos tesouros no céu, deveríamos ser mais humanos com as pessoas de nossas comunidades cristãs. Mais humanos com os vizinhos, companheiros de trabalho, funcionários e patrões. Com diz Adriana Defentti, uma pessoa não pode agir de qualquer maneira, senão que lhe faça sentir pessoa. Se o que fizermos nos faz sentirmos como pessoas, poderemos entender os demais seres humanos com pessoas e seguir na construção de relacionamentos consistentes e duráveis.

O estilo de discipulado que Jesus praticou com seus doze discípulos está baseado justamente na questão do relacionamento interpessoal. Vejamos que a maioria das vezes que Jesus disse coisas profundas ou fez milagres, os discípulos não compreenderam. Mas a pessoa Jesus estava presente em suas vidas, seu exemplo e sua prática.

O relacionamento do discipulado é uma troca, onde as pessoas estabelecem ligações que perduram ad eternum. Todavia, esta perspectiva traz o medo da exposição. Medo de se perder a individualidade e o poder sobre a própria vida. Pois aquele que discípula deve estar aberto para o discípulo, que no futuro será um igual, não um inferior.

O discipulado que Jesus praticou levou seus discípulos a abandonar tudo, e segui-lo como crianças. Mas, para aquele homem, seguir Jesus significava uma mudança de vida tão radical que seria impraticável. Abandonar suas riquezas, sua família e seus amigos ricos o tornaria algo que ele mesmo abominava, um pobre.

Quando aquele homem procurou Jesus, sua intenção era apenas a de receber a vida eterna. Lembremo-nos do menino que doou os pães e os peixinhos da multiplicação. Este homem não esta a fim de doar, no máximo, ele se disporia a comprar a salvação, se Jesus colocasse um bom preço.

A espiritualidade Cristã é uma via de duas mãos onde o receber e o dar são faces de uma mesmo moeda. Ninguém que seja incapaz de dar-se pelo outros é capaz de vivenciar uma vida cristã plena e frutífera.

Se assim for, a decisão daquele homem em abandonar Jesus foi correta. Pois é melhor não seguir Jesus do que fazê-lo com Judas o fez. O caminho da maturidade Cristã exige de cada um a correta avaliação de si mesmo. Devemos questionar-nos sobre o que realmente queremos de Jesus e sobre o que estamos dispostos a abandonar por causa dele.

Não que apenas os perfeitos devem seguir o caminho, mas o caminho de Cristo é para aqueles que desejam realmente, apesar dos defeitos e dificuldade intrínsecos a natureza humana, pois se assim não for, qual dos doze poderia ser discípulo?

O texto de Marcos 10 nos ensina que a vida eterna não pode ser obtida como um produto que se herda ou compra. Sua busca deve levar àquele que a almeja, ao desenvolvimento de uma espiritualidade madura, que restabeleça os relacionamentos sociais corrompidos pelo pecado. Esta espiritualidade transforma aquele que se coloca na busca em sujeito ativo nas mãos de Deus, segundo o venha do Teu Reino da oração ao Pai.

O sintoma da presença do Espírito Santo na vida do Cristão, e conseqüentemente, da maturidade espiritual, pode ser constatado mais claramente através dos tipos de relacionamento que o cristão constrói em sua teia de relacional, do que pelo número de prosélitos, boas obras ou milagres produzidos por este.

Façamos como os discípulos, sigamos a Jesus. Aceitemos o desafio proposto por ele e sejamos seus representantes neste mundo que precisa tanto das palavras de Salvação. Que a salvação que nos alcança prossiga para além de nós mesmos, de forma que sejamos mais um elo na corrente, e não o fim dela.

Quanto à resposta da Pergunta inicial, Deus ama a todos os seres humanos de igual forma, rico ou pobre. Mas a diferença que há entre as pessoas é a capacidade de abrir mão de si mesmo para tomar posse da vida eterna.

3 comments:

Anonymous said...

valeu!!!

Osvaldo Sato said...

Marcão
Gostei muito do estudo
Concordo com tudo! :)

Vou te dar uma dica de site:
http://cultvox.locaweb.com.br

cara, vc se cadastra e pode baixar uma série de livros clássicos, de graça, em formato ".pdf"!

é muito bom! minha prateleira virtual já está lotada! heuheuehue!

Abraços!

Anonymous said...

A paz Marcão, gostei da mensagem, poxa vc ta uma benção!!!fico feliz com seu crescimento, vou ler sempre q puder seus estudos, a palavra de Deus é alimento e vida p nós cristãos, e que bom saber q o Senhor Jesus veio a este mundo por amor de nós pecadores quer seja rico ou pobre, mas creio q há no presente momento tantos famintos.... de alma, quer seja pobre ou rico, ha fome de Deus, de vida em abudância,vamos encorajar as pessoas iludidas e enganados por este sistema de coisas que reina hj: o amor ao dinheiro, capitalismo, drogas, violencia, a tomarem uma decisão, ousada de fé,de viverem segundo os planos de Deus para as suas vidas. continue sendo benção!!!
no amor de Cristo,
Sandra Neres Oliveira (Ig. Holiness T. Lagoas)