Monday, May 29, 2006

O pecado na multiplicação - Uma leitura de Genesis 6:1-10

O pecado na multiplicação..

Uma leitura de Genesis 6:1-10

Toda leitura bíblica deve gerar em nossos corações algo novo. Velhas verdades que tornam-se fontes de novos pensamentos e vida. Por isto, a Bíblia é como a nascente de um grande rio que rega nossas vidas e purifica nossos corações do erro e do pecado. Gostaria de apresentar uma leitura bíblica necessária aos nossos dias e à nossa cultura, tendo em vista as semelhanças entre o texto e nossa realidade humana.

O texto de Gênesis 6 narra a aventura humana em seus primórdios. Podemos observar que a humanidade, formada por aqueles que conhecem e por aqueles que não conhecem a Deus, se multiplicou, evoluiu culturalmente e neste processo se misturou etnicamente. Este processo de miscigenação, na cosmovisão antiga, era comum para se construir alianças que tornavam o povo poderoso e capaz de grandes proezas como guerras, conquistas e construções. Para nós, que somos brasileiros e temos em nossa cultura a miscigenação como algo normal, tal parece-nos um procedimento louvável. Todavia, o texto afirma nas entrelinhas que por trás deste fato havia propósitos que não se enquadravam com os propósitos de Deus para seus filhos. Assim, Deus diz que o homem é carne, e por causa disto seu Espírito não lutaria com o homem eternamente. Em outras palavras, o Espírito de Deus não insistiria para sempre com o indivíduo humano para que ele ande em caminho correto. Então, por causa do pecado e de sua tendência pecaminosa, seus dias seriam apenas cento e vinte anos.

No verso quarto, pode-se observar a apresentação de um outro tipo humano, que é denominado por Nephilins pelo escritor Bíblico. Estas pessoas não eram anjos nem demônios, mas um povo de cútis clara, pois a raiz hebraica desta palavra, Nephel, aponta para a cor branca, assim como adamah, que traduzimos como homem ou humanidade no primeiro verso, tem sua raiz associada à cor vermelha, tendo em vista que Adão foi feito da terra. A abordagem de que os Nephelins seriam demônios ou anjos é derivada da leitura do livro apócrifo de Enoque e de outros midraxes judaicos. Tal livro não expressa o pensamento veterotestamentário que a Igreja Cristã apregoa e, portanto não deve ser levado em consideração como Palavra de Deus.

Este povo habitava a oeste do povo apresentado no primeiro verso, isto é, se utilizarmos a tradução alternativa da palavra dias, que pode significar oeste. Eles então fizeram o mesmo que os outros homens, escolhendo mulheres para si e destas relações nasceram os grandes guerreiros da antiguidade cujos nomes estão escritos nas antigas tradições babilônicas.

Então, o verso quarto nos apresenta o fato de que tudo o que a humanidade estava fazendo era maldade e pecado, pois Deus não havia colocado a humanidade na terra para que esta fosse um povo de grandes guerreiros, ou grandes assassinos que matam homens, mulheres e crianças, que edificam impérios sob o sangue dos perdedores. Assim o texto julga que era mal o homem estar sobre a terra, pois todos os seus pensamentos eram malignicidade. Podemos então dar um significado especial ao termo andar com Deus, utilizado para Noé, pois a humanidade que Deus destruiu pelo dilúvio não andava com Deus, mas andava com a carne e seus desejos egoístas.

Tal tendência humana gerou em Deus peso no coração, que pode ser entendido como angústia, dor de estômago ou desgosto profundo, se levarmos o termo hebraico em seu sentido literal. Como um pai que descobre a marginalidade de seu filho quando este é preso pela polícia, como a esposa que descobre o adultério ou como quando lemos as noticias sobre homens públicos em que acreditamos e que nos traem por dinheiro, sexo e poder. No caso, dinheiro de nossos impostos.

Deus, no verso seguinte de Gênesis, decide limpar a criação completamente, pois o termo hebraico mahah significa lavar ou limpar para fora, no sentido de purificação. E isto deve gerar em nós a idéia clara de que Deus cuida de sua criação e tem para ela um plano, não apenas para o homem, mas para a criação como um todo. O pecado humano suja a criação com a mesma nódoa espiritual que se impregna na alma humana, diferindo apenas no fato de que a natureza mostra sua sujeira enquanto que os seres humanos tem a capacidade de mascarar com perfumes da hipocrisia e roupas da soberba seus pecados e podridões. Os grandes homens da antigüidade eram pequenos vermes que se contorciam em suas ilusões de poder e ganância, desprezando a Deus e condenando a si mesmos.

No outro lado está a personagem Noé, descanso ou aquele que descansa. Pai de família com três filhos. Descendente de Enoque, tanto na carne quanto na alma, pois andava com Deus em uma geração onde isto não era comum. Este homem comum achou graça na presença de Deus. Isto significa que Deus se agradou de Noé, mesmo ele sendo humano e falho. Deus amou a humanidade através deste homem que vivia sua vida de forma simples, plantando sua roça e buscando andar com Deus. Como Jesus disse: bem aventurando os humildes de espírito, pois deles é o reino dos céus, assim como também serão bem aventurados os mansos que, como Noé, herdarão a terra.

Noé era um homem Justo e íntegro, ou inteiramente justo, em sua geração. Isto é de importância capital para a aplicação do texto à nossas vidas, pois assim como hoje, naqueles dias o andar com Deus, ser justo, era tão difícil quanto nadar rio acima em um universo onde todos os outros seres humanos a nossa volta estão a descer. Ser justo não é legalismo barato ou pietismo de botequim, mas ver o mundo segundo a ótica valorativa de Deus. Entender que os valores do reino de Deus são mais preciosos que as mesquinharias humanas que tem como única finalidade o tapar dos buracos negros de nossa alma que o pecado humano fez.

Portanto, ao invés de lermos este texto pela ótica dos místicos e esotéricos que vêem anjos e demônios na terceira pessoa, devemos ler este texto, assim como o restante da Bíblia, como um espelho que mostra nossos pecados e falhas. Quando lemos a punição de Deus sobre a humanidade, devemos imediatamente olhar para Jesus na cruz do calvário como redentor de nossa vidas. Devemos olhar para o Jesus ressurreto como símbolo do constante amor de Deus por nós. Deveríamos caminhar no sentido de nos aproximarmos diariamente dos propósitos de Deus, dos valores Bíblicos da humildade, simplicidade e obediência a Deus, para assim encontrarmos a mesma graça que Noé encontrou em Deus.

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